Os Portugueses no Vale
terça-feira, 10 de novembro de 2020
domingo, 29 de outubro de 2017
domingo, 14 de outubro de 2012
POR TERRAS DA CALIFÓRNIA
JOÃO E CECÍLIA PIRES - UMA LEITARIA EM GUSTINE
Por Liduíno Borba
Aquando
da minha recente estada na Califórnia, Gustine, entre 9 e 30 de setembro, para
a recolha de elementos para o livro do centenário da “IRMANDADE DO ESPÍRITO SANTO
DE GUSTINE”, fiquei hospedado em casa do simpático casal João e Cecília Pires,
ele natural da Ladeira Grande, Ribeirinha, e ela de São Bento, ilha Terceira,
proprietários de uma “Leitaria” naquela cidade conhecida por comemorar a festa
de Nossa Senhora dos Milagres.
Foi
no escritório (office) da “Leitaria” que tratei de digitalizar, fotocopiar,
anotar e reunir todos os documentos necessários ao livro. Para além da
colaboração dos proprietários, dos membros da Irmandade – Gustine Pentecost
Society (GPS) –, tive a excelente colaboração de Lloyd Vierra (Vieira), um
profundo conhecedor de toda a história e pessoas da localidade, e ainda de duas
extraordinárias senhoras da Gustine Historical Society – Pat Snoke e Kris
Nagle.
João
Pires faz parte da última geração que emigrou para os Estados Unidos da América,
nos anos 60 e 70, do século XX, e que acabou por dinamizar algumas das nossas
festas com uma certa decadência. Este casal faz parte de um grande grupo de
pessoas de boa vontade que muito tem contribuído para a pujança das nossas
festas e tradições na zona central da Califórnia.
João
Pires emigrou em 1973 e, naquela data, ficou a residir no Chino, sul da
Califórnia, onde viveu oito anos a trabalhar em leitarias.
Em
dezembro de 1981 estabeleceu-se com a sua própria “Leitaria”, em Hilmar, centro
da Califórnia, mudando-se pouco tempo depois para Newman, cidade vizinha. Aí
permaneceu até setembro de 1992, data em que se muda para Gustine, então com
600 vacas ligadas ao seu negócio de “Leitaria”. Segundo João Pires, as
dificuldades foram mais que muitas mas a maior foi a ameaça de falência da
“Cremaria” (Creamary) onde colocava o leite, que passou por muitas dificuldades
durante dois anos, pondo em causa toda a atividade económica dos seus
fornecedores.
João
e Cecília Pires sempre acreditaram na força do seu trabalho para enfrentar as
diversas crises que tem assolado aquela atividade. Em 2012, têm uma “Leitaria”
próspera, na estrada 140, em frente ao aeródromo de Gustine, com cerca de 620 alqueires
(cerca de 2600 na Terceira) de sua propriedade, e 430 alqueires arrendados, que
alimentam 7000 cabeças de gado, sendo mais de 3000 vacas de leite, ordenhadas
três vezes ao dia, num “bando” de carrocel que ordenha 60 vacas em 9 minutos. A
produção leiteira diária é de cerca de 120.000 litros, transportados em
autotanque própria para a fábrica ali próxima. A receita mensal ultrapassa um
milhão de dólares. Para além dos elementos da família esta “Leitaria” emprega
23 trabalhadores. Como curiosidade, a silagem efetuada em 2012 andou perto das 40
mil toneladas.
Esta
“Leitaria” está montada com meios modernos de laboração e obedece a todos os
requisitos oficiais e ambientais em vigor na localidade. As entidades oficiais
são muito rigorosas na fiscalização desta atividade, nomeadamente no consumo,
extração, tratamento e encaminhamento de águas, bem como na relação da dimensão
da propriedade com as cabeças de gado existentes. Um certo amadorismo de há uns
anos atrás não tem qualquer cabimento nas explorações agrícolas existentes atualmente
na Califórnia. Tudo isto acarreta uma série de custos inexistentes
anteriormente.
A
crise mundial de há dois anos a esta parte também tem afetado esta atividade na
Califórnia. Muitas têm sido as “Leitarias” que têm fechado portas nos últimos
tempos. Tem havido meses de chegar à dezena. Em 2006 havia cerca de 1600 em
toda a Califórnia e o último levantamento aponta para menos de 1200. Ou seja,
foram mais de 400 as que encerraram nos últimos tempos, embora parte do efetivo
leiteiro tenha sido absorvido por outras. Muitas delas de portugueses e de
dimensão média ou pequena. Uma “Leitaria” que ordenha 300 vacas é considerada
pequena, mas a de 500 ainda está no mesmo rol. Com mais de 1000 já se pode
considerar média, para se lhe chamar grande já vamos falar de 10.000 vacas
leiteiras.
Presentemente
há uma certa expetativa quanto ao futuro, depois de muitas terem fechado e
terem causado muitas tragédias sociais, porque há alguns indicadores que
apontam no sentido de um melhor caminho: o preço do queijo subiu um pouco; as
rações não subiram; o subsídio estatal ao milho para etanol é cortado a partir
de junho de 2013; a produção de leite baixou, embora não comparativamente ao
fecho de vacarias; algumas fábricas já pagaram melhor o último leite, que anda
perto dos 20 dólares por cada 100 libras; e, recentemente, tem havido algumas
manifestações de “leiteiros” de descontentamento em Sacramento, capital do
estado.
É
nesta conjuntura que João Pires continua com muita confiança a desenvolver a
sua atividade, mas sempre atento a todos os custos duma grande “Leitaria”, que
incluídos numa economia de escala são mais facilmente diluídos do que numa
pequena “Leitaria”. O facto de produzir uma grande parte da comida com que
alimenta o seu gado é uma vantagem comparativa muito grande.
Mais
um casal terceirense de sucesso por terras da Califórnia, que tem sabido
desenvolver a sua atividade empresarial e ao mesmo tempo contribuir muito
ativamente nas nossas festas e tradições de forma que as nossas origens
culturais não sejam esquecidas pelas terras da diáspora.
Terceira,
6 de outubro de 2012
Liduíno
Borba
POR
TERRAS DA CALIFÓRNIA
HOMENAGEM A JOÃO ANGELO NA CASA DOS
AÇORES DE HILMAR
Por Liduíno Borba
No dia 14 de Setembro participei na homenagem a João Ângelo,
na Casa dos Açores de Hilmar, Califórnia, pelas 20 horas, organizada pela
Direção desta instituição. O Salão estava cheio de amigos e conhecidos para
recordarem os bons momentos que este improvisador e cantador de Velhas tem
proporcionado a todos.
Este improvisador começou a cantar em 1952, fazendo assim 60
anos de cantigas ao improviso e Velhas por todas as nossas ilhas açorianas,
continente português, Europa, Brasil, Canadá e América.
A primeira vez que João Ângelo se deslocou à Califórnia foi
em 1973, há quase 40 anos e cantou nas famosas Festas de Gustine. Foi uma porta
que se abriu na diáspora e nunca mais se fechou. Ser convidado para cantar
nestas Festas continua a ser sinal de qualidade. Esta viagem de 2012 foi, no
dizer do próprio, talvez a última, atendendo aos seus 77 anos de idade e estado
de saúde. Ao longo destes anos, fez cerca de trinta viagens à América. De
salientar que começou em Gustine, onde se despediu também a cantar.
Esta viagem de João Ângelo começou a ser planeada há cerca
de um ano, quando António Nunes tomou posse como presidente das Festas de Nossa
Senhora dos Milagres, em Gustine, e, desde logo, manifestou desejo de o ter
presente na grande cantoria destas festas.
A cantoria realizou-se no sábado e domingo – dias 8 e 9 –
com a presença de 8 cantadores, 4 locais e 4 vindos dos Açores. Os locais foram
Manuel dos Santos, Alberto Sousa, Adelino Toledo e José Ribeiro. Dos Açores
vieram João Ângelo, José Eliseu, Maria Clara e Bruno Oliveira. No sábado João
Ângelo cantou no terceiro desafio com Manuel dos Santos, para além das Velhas,
no final, com José Eliseu, José Ribeiro e Bruno Oliveira, e no domingo com
Adelino Toledo. Não é muito habitual cantar-se Velhas nesta Festa, mas o bom
naipe de cantadores presentes tornou-se quase obrigatório ouvir-se umas
Velhinhas.
As Velhas, cantiga de escárnio e mal dizer tem, até agora,
três períodos distintos na nossa história: até cerca de 1960, por vezes
cantadas por uma só pessoa em coreto, salientado os defeitos físicos e mal
trajar da Velha, e por vezes sem rima completa da décima; de 1960 a cerca de
2000 em que o grande “inventor” da Velha refinada com humor muito picante e de
segunda intenção é sem sombra de dúvida esse grande Mestre João Ângelo, com a
participação de António Plácido e António Mota; na última década apareceu José
Eliseu a cantá-las, com muita classe ao lado Mestre, e introduziram uma nova
forma, ou seja uma desgarrada em décima, juntando-se a eles, com mais destaque,
Bruno Oliveira, da ilha de São Jorge.
A homenagem na Casa dos Açores de Hilmar decorreu de forma
muito amistosa, tendo sido aberto o serão por Vital Marcelino, como membro
daquela associação, que me deu a palavra onde falei cerca de meia hora sobre a
vida do Mestre das Cantorias.
De seguida falou Osvaldo Palhinha que há anos se dedica à
comunicação na Califórnia, deixou um excelente testemunho sobre cantorias que assistiu
nos anos 60, na ilha Terceira, com a participação de João Ângelo.
Seguiu-se uma pequena cantoria em “fiada” com José Ribeiro,
António Azevedo, Liduíno Borba, Adelino Toledo, Vital Marcelino e João Ângelo,
onde foram feitas quadras de referência ao homenageado.
Seguiram-se umas Velhas com José Ribeiro, António Azevedo,
Liduíno Borba e João Ângelo que mais uma vez deliciou a assistência.
Vital Marcelino entregou uma placa, relacionada com a
homenagem, a João Ângelo, tendo-se seguido um divertido convívio entre os
presentes.
Gustine, 28 de setembro de 2012
Liduíno Borba
domingo, 16 de setembro de 2012
POR TERRAS DA CALIFÓRNIA
FESTAS DE GUSTINE/MILAGRES 2012
Por Liduíno Borba
Nesta
minha viagem à Califórnia tive o privilégio de ainda apanhar o final da Festa
de Nossa Senhora dos Milagres, em Gustine, ou seja a partir do dia 9 de Setembro,
Domingo.
Estas
grandes Festas foram este ano presididas por António e Filomena Nunes, da família
Nunes dos arredores de Angra do Heroísmo, que primaram por fazer uma festa de
alto nível.
As
festas decorreram entre os dias 31 de agosto e 10 de Setembro, sendo até ao dia
5 apenas a parte religiosa. Esta parte da festa foi este ano presidida pelo
padre Adriano Borges.
Na
parte profana começamos pela quinta-feira, dia 6, com uma excelente noite de
fados, com a presença de duas vozes do continente português – António Pinto Bastos
e Teresa Tapadas – e duas locais: Zelia Freitas e Jorge Costa, todos
acompanhados por Hélder Carvalheira, Manuel Escobar e João Cardadeiro, do grupo
“7 Colinas”.
A
noite de sexta-feira, dia 7, foi preenchida com a presença do Grupo Folclórico
e Etnográfico da Ribeirinha “Recordar e Conhecer”, vindo da ilha Terceira, e
que tem andado em digressão por diversas cidades da Califórnia. No dia 13, o
Grupo marcou presença em Tracy para uma receção local. No dia 14, foi recebido
ao almoço em casa de Manuel Eduardo Vieira, “O Rei da Batata Doce”. Neste dia, à
noite, atuaram em Tulare.
No
sábado, dia 8, teve lugar pela manhã o tradicional e elegante Bodo de Leite com
Pezinho. Para alem da missa e procissão de velas, da atuação da banda “Raça”, e
apresentação de Rainhas, realizou-se uma grande cantoria com quatro cantadores
dos Açores e quatro na Califórnia: João Ângelo, Maria Clara, Bruno Oliveira e José
Eliseu; Adelino Toledo, Alberto de Sousa, José Ribeiro e Manuel dos Santos.
No
domingo, dia da minha chegada, realizou-se a procissão, missa solene, recitação
do terço, ofertas de sopas e carne a todos os presentes, leilão de gado, baile
e cantoria. Só cheguei a horas de assistir a esta última. Como no sábado, a
cantoria do domingo encheu o parque de admiradores desta arte de improviso,
como nunca se tinha visto, para assistirem às cantigas dos cantadores José
Eliseu, João Ângelo, Maria Clara, e Bruno Oliveira, vindos dos Acores, para
alem dos quatro locais. Duas referências especiais a João Ângelo e Bruno
Oliveira: ao primeiro por ser talvez a ultima vez que cá vem cantar, no dizer
do mesmo; ao segundo pela espetacularidade que tem criado em quase todas as
cantorias que tem cantado, arrastando atrás de si uma assistência muito acima
do normal nas cantorias.
E
em Gustine, no sábado, Bruno Oliveira, não deixou de causar sensação ao cantar
com o improvisador do sul da Califórnia, Alberto Sousa, quando lhe falou no “intocável”
assunto da cabeleira postiça. O mau estar de Alberto Sousa foi visível, pior
ainda a contestação de parte do publico presente, e um apoio maioritário a
Bruno Oliveira, que mais uma vez recebeu muitas palmas. Este tema “incendiou”
as conversas e opiniões dos amantes do improviso, nos dias seguintes, mesmo a nível
da comunicação social local portuguesa, dividindo-os em dois grupos: a favor e
contra a atitude de Bruno.
No
domingo, José Eliseu e Bruno Oliveira abriram a cantoria e efetuaram um desafio
de bom nível para consolo dos presentes, que dispensaram muitas palmas a
qualquer um deles; o segundo desafio, entre José Ribeiro e Alberto Sousa,
esteve um pouco abaixo do que qualquer um deles é capaz de fazer; o terceiro
desafio da noite, entre João Ângelo e Adelino Toledo, agradou aos presentes,
que manifestaram o seu gosto com algumas palmas. Antes do desafio de despedida,
cantaram Manuel dos Santos e Maria Clara que teceram boas rimas de improviso à
volta do tema de Maria e Mãe.
Na
segunda-feira, dia 10, participei na corrida de toiros na praça de Gustine, a qual
se encontrava cheia, para assistir ao concurso de Ganadarias e ver os
cavaleiros. Participaram na corrida três cavaleiros: o local Paulo Ferreira e
os terceirenses Tiago Pamplona e Rui Lopes. O premio para o melhor toiro foi
entre a Manuel de Sousa Jr., da Ganadaria Pico dos Padres, e o de melhor apresentação
foi para a Ganadaria Açoriana, entregue a José Manuel Martins.
E
assim terminou mais umas grandes festas de Nossa Senhora do Milagres, em
Gustine, Califórnia, que comemorou 76 anos de existência.
Gustine,
15 de Setembro de 2012
Liduíno
Borba
(Fotos
de Jose Avila)
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